É universal?
Muitas pessoas pensam que a língua de sinais, em todo o mundo, é igual. Esse pensamento baseia-se em alguns preconceitos, tais como:
- já que a comunicação por gestos é intuitiva e uma vez que não exige aprendizagem, deveria ser a mesma para todos os surdos;
- já que a comunidade surda, ao redor do mundo, é uma minoria, certamente utiliza um único tipo de comunicação;
- já que é uma comunicação icónica (uma representação da realidade, por ícones), a sua representação deverá ser a mesma em todo o mundo.
No entanto, uma vez que todos estes argumentos partem de premissas erradas, as conclusões são também erradas. A língua de sinais não parte de gestos intuitivos ou de
mímica, antes, é uma língua natural, com léxico e gramática próprios. Cada comunidade de surdos desenvolveu a sua língua de sinais, ao longo dos tempos, assim como cada comunidade de ouvintes desenvolveu a sua língua oral; por esta razão, cada país tem a sua língua de sinais, sendo possível encontrar-se países com mais do que uma língua de sinais.
Os
linguistas que estudaram as diferentes línguas gestuais concluíram que estas apresentavam diferenças consideráveis entre si.
Além disso, os surdos sentem as mesmas dificuldades que os ouvintes quando necessitam comunicar com outros que utilizam uma língua diferente.
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Por isso, cada país tem a sua própria língua gestual. Por exemplo, no
Brasil existe a
Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS),em
Portugalexiste a
Língua Gestual Portuguesa (LGP), em Angola existe a Lingua Angolana de Sinais (LAS), em Moçambique existe a Lingua Moçambicana de Sinais (LMS, ETC) Da mesma forma que acontece nas
línguas faladas oralmente, existem variações linguísticas dentro da própria Língua de Sinais, que se podem considerar
regionalismos e/ou
dialetos. Essas variações se devem a culturas diferentes e influências diversas no sistema de
ensino do país, por exemplo. Há até mesmo uma língua de sinais universal, análoga ao
Esperanto, conhecida como
Gestuno, que é usada em convenções e competições internacionais.
A língua de sinais é ainda usada em situações em que pessoas sem quaisquer deficiências, ao nível da visão ou audição necessitam comunicar, sem poderem usar sons. Exemplos disso são a comunicação entre
mergulhadores e certos rituais de iniciação entre
aborígenesaustralianos, em que é proibido se falar oralmente por um período de tempo.
Não se sabe quando as línguas de sinais se iniciaram, mas sua origem remonta possivelmente à mesma época ou a épocas anteriores àquelas em que foram sendo desenvolvidas as línguas orais. Uma pista interessante para esta possibilidade das línguas de sinais terem se desenvolvido primeiro que as línguas orais é o fato que o bebê humano desenvolve a coordenação motora dos membros antes de se tornar capaz de coordenar o aparelho fonoarticulatório. As línguas de sinais são criações espontâneas do ser humano e se aprimoram exatamente da mesma forma que as línguas orais. Nenhuma língua é superior ou inferior a outra, cada língua se desenvolve e expande na medida da necessidade de seus usuários.
Também é comum aos ouvintes pressupor que as línguas de sinais sejam versões sinalizadas das línguas orais; por exemplo, muitos acreditam que a
LIBRAS é a versão sinalizada do português; que a
Língua Americana de Sinais é a versão sinalizada do
inglês; que a
Língua Japonesa de Sinais é a versão sinalizada do
japonês; e assim por diante. No entanto, embora haja semelhanças ou aspectos comum entre as línguas de sinais, devido a um certo contágio linguístico, as línguas de sinais são autónomas, não derivando das orais e possuindo peculiaridades que as distinguem umas das outras e das línguas orais.
A língua de sinais é tão natural e tão complexa quanto as línguas orais, dispondo de recursos expressivos suficientes para permitir aos seus usuários expressar-se sobre qualquer assunto, em qualquer situação, domínio do conhecimento e esfera de atividade. Mais importante, ainda: é uma língua adaptada à capacidade de expressão dos surdos. Por outro lado, a Lingua de Sinais, embora seja a lingua natural dos surdos, nao é a linguia materna de qualquer surdoLS é a abreviação de Língua de Sinais.
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Alfabeto dactilológico
A difusão do
alfabeto dactilológico de uma só mão entre os ouvintes gerou a pressuposição de que esse alfabeto é a própria
língua de sinais, que há uma única língua de sinais e que essa língua é universal. No entanto, o alfabeto dactilológico é
apenas um suplemento das línguas de sinais, cuja função é a soletração de palavras das
línguas orais, tais como, nomes próprios, siglas, empréstimos, etc.
É muito aconselhável soletrar devagar, formando as palavras com nitidez. Entre as palavras soletradas, é melhor fazer uma pausa curta ou mover a mão direita para o lado esquerdo, como se estivesse empurrando a palavra já soletrada para o lado. Normalmente o
alfabeto manual é utilizado para soletrar os nomes de
pessoas, de
lugares, de
rótulos, etc., e para os
vocábulos não existentes na língua de sinais.
Línguas de sinais e línguas orais
Ao falarmos em língua de sinais estamos a referir-nos a língua materna/natural de uma comunidade de surdos, isto é, uma língua de produção manuo-motora e de recepção visual, com vocabulário e gramática próprios, não dependente da língua oral, usada pela comunidade surda e alguns ouvintes, tais como parentes de surdos, intérpretes, professores e outros.